domingo, 9 de outubro de 2011

Retrato de um povo

Não somos uma capital decaída, mas uma cidade Libertada. Fomos é certo, abandonados,  os que daqui saíram sabem que o Rio é uma cidade onde ontem hoje e sempre estarão como em sua casa. Sabem estes Brasileiros que somos uma região sem regionalismos, pensamos nossos problemas em termos mundiais além de continentais, e continentais além de nacionais.
Somos um povo sem rancores, cuja alegria nada consegue destruir, cuja esperança ninguém esmorece, cuja bravura ninguém domou, cuja fibra ninguém destroçou, cujo entusiasmo NINGUÉM abateu. Somos o povo que rechaçou o invasor e a aliança dos nativos com ele.(...) Somos um povo carnavalesco, mas um povo sofrido; um povo de sambas e de reações profundas; Somos um povo com senso de humor e com repentes de ira sagrada. Somos um povo impetuoso e generoso capaz de indisciplina e de indocilidade; povo que não gosta de se curvar mas se inclina diante da beleza (...)
Aqui até os mais pobres moram de rosto voltado para a maravilha da natureza, que a incúria dos governos ainda não conseguiram desfigurar.
Muitas desgraças nos desfiguraram, muitas cicatrizes marcam a cidade, abertas, escandalosas, de sinais de tragédia e sombras de martírio. NÃO É POR ACASO QUE O PADROEIRO DA CIDADE É UM MÁRTIR CRIVADO DE FLECHAS. Pensaram que nos abandonando interiorizavam a civilização, mas foi aqui que a deixaram. Porque somos a síntese do Brasil, somos a porta do Brasil para o mundo, e somos do mundo, a vera imagem que ele faz de nós.


Carlos Frederico Werneck Lacerda (1960)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Ao povo Carioca

Denuncio aqui ao povo carioca, a conspiração que ocorre às vezes silenciosamente, às vezes de forma gritante, nos corredores do Congresso, nos Ministérios e nos porões do Palácio do Planalto, contra um povo honrado e sério, o povo carioca. Enquanto a conspiração consistia apenas em pequenas hostilidades abertas, não havia por que ter preocupação. Agora querem mais uma vez atingir nosso povo, e de forma aviltante.
O único prejudicado será você cidadão carioca, depois todos os brasileiros. Estes por que após nos espoliarem, acabarão brigando entre si pelos louros de uma guerra surda, que historicamente nos é imposta de forma criminosa, e nem sempre bem enfrentada pelos cariocas que deveriam enfrentá-la, nossas autoridades.
Não nos perdoam o período em que fomos a Capital da Colônia, do Império de depois da República. Tudo faziam para nos privar de nossa autonomia, os vetos de nosso prefeito NOMEADO PELO PRESIDENTE não podiam ser apreciados pela Câmara dos Vereadores, e sim pelo Senado Federal. Sistematicamente nossos prefeitos eram mineiros, gaúchos e até paulistas, o que é monstruoso de se pensar. Mas enfim, com a constituição do estado da Guanabara, conseguimos, enfim, nossa autonomia.
Mas a luta continuou, não parou ali.
Quando estado da Guanabara, vivemos sob constante ameaça do Governo Federal. O prejudicado continuava sendo o cidadão carioca.Verbas que nos eram de direito, sistematicamente foram negadas. Nem o que era devidamente nosso eles queriam nos dar, mas mesmo assim com um governo honrado e dois nem tanto assim, conseguimos manter o então estado da GB no topo do país tanto politicamente quanto culturalmente.
Eis que vem a fusão, imposta forçosamente pelo Governo Federal em mais um espetacular ato de intervenção, e o Rio perde sua capitalidade. Indústrias que se localizavam no estado do Rio, fugiam para Minas Gerais ilegalmente, como bem explicou Ronaldo Costa Couto, secretário de planejamento do Governo da Fusão  (Floriano Peixoto Faria Lima) ao CPDOC. Não importa, se for para atingir o Carioca tudo vale.
Nos anos 80 e 90 vivemos a desgraça total. Dois governos Brizola, tivemos Marcello Alencar, Moreira Franco, foi uma tragédia, sem contar os Garotinho.
Aonde o Carioca vai, é chamado de preguiçoso, de aproveitador, sofre os mais variados preconceitos, é insultado. Salvo em algumas localidades, sofremos os mais diversos preconceitos em quase todos os outros estados da "federação".
O Governo Federal defende os mais variados politiqueiros que aqui se instalam, impedindo o surgimento de lideranças verdadeiras e eficazes. Em todas as eleições, o Governo Federal banca e apóia os piores candidatos, que vencem.
Agora, nos últimos anos, mais pelo momento positivo e menos pelas qualidades de nosso governador, o Rio voltou a crescer, mesmo que a duras penas. O crescimento do Rio de Janeiro, as Olimpíadas, a final da Copa do Mundo é uma provocação permanente à certos grupos.
A cada conquista realizada pelo povo carioca, muitos se retorcem, se danam e re-danam inventando fórmulas, pretextos e desculpas para nos espoliarem. Antes, sempre quando tínhamos um Governo honrado eles batiam-se e de tudo faziam para nos afrontar. Foi assim com Pedro Ernesto, acusado de comunista, com Lacerda, Faria Lima e até Conde. HOJE, ELES SEQUER ESPERARAM QUE TIVÉSSEMOS UM GOVERNO HONRADO, ATACARAM O GOVERNO CABRAL MESMO.
Mesmo sendo governados por um negocista, um sujeito cheio de negócios escusos, precisamos protestar, é pois, dever nosso reagir. Chegou a hora. Precisamos fazer nosso protesto ter entono nas Universidades, nas associações de classe, nas ruas, nas escolas, na ALERJ, na Câmara, no Planalto, pois o povo carioca não aguenta mais ser espoliado.
As briguinhas internas com o Governador devem ser interrompidas para nos unir contra o inimigo comum. Churchill e Atlee se atacaram mutuamente durante anos, mas se uniram contra o invasor estrangeiro. Então sendo Udenistas, Peessedebistas, Comunistas, Esquerdistas, sejam lá o que forem. É hora de nos unirmos. Cabral, Picciani, Paes entre outros, uma hora irão sair. O Rio ficará, só não sabemos como.
É hora do basta!
Tudo o que pedimos aqui é: Não mexam no que é nosso, e deixem o Rio em paz. Querem transformar nosso lar um imenso balneário com favelas em volta. É preciso que se reaja à isto. É necessário que o poder público carioca se faça presente. Sem ameaçazinhas idiotas ao Planalto, apenas reivindicando o que é nosso.
E esperamos que parte do Congresso também tenha um acesso de escrúpulos.
Contra a Covardia em Defesa do Rio!!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Meu amigo X, antes de depois

Bom meus caros, interrompo aqui as postagens sobre textos político-sociais afim de lhes contar as impressões que tive ao rever um grande amigo de minha família, o X.
Quando conheci X, eu era apenas um jovem de dezesseis anos, e ele 21. Cursava a Universidade Cândido Mendes, mais precisamente o curso de economia, sempre se destacando por suas notas e conseguindo bons estágios, rodeava-se de amigos e sempre viva sorrindo.
X era um jovem cheio de sonhos, que me ensinou muitas coisas. Lembro-me bem de quando estava apaixonado por M, também amiga de minha infância. Viam-se quase que diariamente, até achei que fossem casar-se e encontrar a felicidade.
Bom, eis que hoje, passando pelo centro da cidade, mais precisamente na Rua Primeiro de Março, vejo um sujeito sentado em um bar rodeado por lindas garotas e bebericando whisky e cerveja, quando me dei conta, era X. Diferente, estava mais alto, bem arrumado, porém com uma cara de sujeito desinteressado, apenas vivendo. Parei, falei com ele, e lógico, com as garotas, nenhuma delas demonstrava o mínimo de inteligência, apenas estavam ali para o "abate", como me revelou X. Questionei se isto era certo, afinal eram três. Além de me dizer que sim, revelou que era outro, e que M havia morrido para ele quando ele tinha 23 anos.
Tomei o primeiro ônibus para casa e fiquei me questionando sobre o que houve na vida de X que fê-lo mudar radicalmente. Ao chegar em casa liguei para antigos amigos e fiquei surpreso mais que boquiaberto ao ouvir as histórias destes anos os quais eu me mantive à parte de um belo círculo de amizades.
X tornou-se um dos sócios de uma mediana empresa de contabilidade localizada no bairro do Castelo, no Centro. Hoje, é uma pessoa que não se importa com os outros, costuma dizer que seu coração morreu junto com tudo o que ele acreditava, o porquê disso tudo eu sequer faço ideia.
Mas gosto de fazer conjecturas, embora este assunto não seja o meu forte. Como um péssimo pesquisador das relações humanas, pude constatar que X sofreu alguma grande decepção em sua vida, a qual o fez congelar profundamente. Hoje ele diz aos amigos que é mais fácil acreditar em um político do PMDB do que nos sentimentos de uma mulher, o que é monstruoso de ouvir. Não pretende se casar, muito menos se envolver com qualquer tipo de mulher, à não ser com as quais ele denomina objetos. Algumas estudantezinhas universitárias, estagiárias de sua empresa ou mesmo prostitutas.
X hoje é um homem que se acha feliz, mas na verdade é um solitário. Nunca vou saber o que aconteceu com aquele homem feliz, e hoje o que mais me atemoriza é ter que ficar como ele, coisa que eu não desejo para qualquer um.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Rio de Janeiro devastado e sua política I







Meus caros amigos, saber sobre a atual situação de seu estado é importante. Importante também é saber o quanto o povo estima e se reconhece na pessoa do governante. Então podemos dizer hoje, tranquilamente, sem hesitar, que o Rio de Janeiro está acéfalo, sem governo, sem líderes, e sem perspectivas. Pois hoje o povo do Rio de Janeiro se reconhece em qualquer um, menos nos integrantes da atual quadrilha de negocistas que hoje dizem governar o estado.
Sei que ingênuos ou espertos dirão que isto é apenas mais uma postagem de um ser sempre insatisfeito, que as Olimpíadas virão, o Rio mudará, e Copa do Mundo, e blá blá blá. Para mim não passa disso mesmo, de conversa afiada.
O Rio de Janeiro hoje precisa de três coisas. De líderes autênticos, de desenvolvimento e com isso a recuperação do espaço usurpado e nunca devolvido  na Federação. O primeiro item é indispensável para o crescimento e importância do estado. Hoje temos deputados que se morressem, ninguém daria falta, à  exceção de um louco chamado Jair Bolsonaro, conhecido falastrão e propagador de asneiras.
Quem duvidar, que me aponte projetos de leis, posições de liderança no Congresso e outras notoriedades de deputados fluminenses. Não acharão. E se por ventura acharem, nada mais será do que imposturas como a regulamentação da gorjeta dos garçons. Pura demagogia e uma incrível tentativa de lobby junto àquela categoria profissional.
O desenvolvimento passa pela capacidade dos líderes de alavancar seu próprio estado. O que temos hoje é um incompetente no poder, rodeado por uma corte de incubus e succubus que tudo o que fazem é sugar cargos, verbas, favores e sinecuras. Mesmo com Olimpíadas e Copa do Mundo, este quadro não mudará. Praticamente toda a infraestrutura para estes eventos será implantada ainda nesta legislatura, então preparem-se amigos leitores, pois além dos eventuais assaltos praticados por esta quadrilha que está hoje no poder, ao dinheiro público, some a isto a já declarada e demonstrada incompetência, que infelizmente transformará a maior chance de crescimento do Rio nos últimos 45 anos, em um balcão de negociatas e acordos escusos.
Seria dispendioso e até desnecessário enumerar todos os erros no planejamento do Rio para estes eventos, falar sobre metrô, BRTs, estradas, portos e aeroportos é algo que todos sabem, mas ninguém toca no que diz respeito à mentalidade corrupta e imoral do governo, de seus antecessores e de muitos que fingem ser seus opositores. O povo já sabe, ou pelo menos está em vias de saber, quem são seus verdadeiros líderes, seus verdadeiros amigos, pois ninguém engana mais ninguém. Mas se o povo já está desenganado, porquê não vai à  forra nas próximas eleições ?
Porque a propaganda demagógica nos jornais, nas rádios e principalmente na TV, sobretudo naquela que já é praticamente a Rede oficial de televisão do estado do Rio de Janeiro, pois poupa os principais responsáveis pela aflição do povo de todas e quaisquer críticas,  por sinal merecidas, esta propaganda hoje corrompe o próprio povo pelo comodismo, pelo conformismo, pela ideia de que "não há jeito pois todos são assim", e pela súbita omissão na hora de cobrar do estado as melhorias necessárias à população.
E com tudo isso, é impossível reconquistar o espaço que nos é de direito na federação. O Rio de Janeiro, abandonado como a corte que fugiu de Portugal em 1808, o Rio de Janeiro que se transformou em local de negociatas, de funcionários públicos que não trabalham, de péssimos serviços públicos, de políticos que fazem acordos com bicheiros e inclusive promovem almoços para os mesmos, até hoje este Rio de Janeiro não conseguiu se recuperar de seus problemas. Hoje, este Rio sente-se ultrapassado, humilhado, ferido, vencido, com uma politicagem devoradora no seu seio e principalmente com o desânimo do povo, que infelizmente dará a vitória às mesmas figurinhas já conhecidas nos próximos pleitos.
Então meus caros amigos, apontados os problemas, o quê fazer ?


Continua amanhã...

sábado, 19 de março de 2011

Inverdades comissionadas

Proposta por Lula durante o seu Governo, a comissão da verdade provavelmente será aprovada neste ano, primeiro do Governo Dilma, já que o Congresso está submisso ao Executivo e este a deseja mais do que nunca.
Não seria por acaso uma grande mentira se esta comissão, ao que me parece, nomeada pelo Governo, apenas apurasse os crimes militares. Mas, dentro de um Brasil democrático como hoje, isto seria uma ignomínia ao povo brasileiro, e a todos aqueles que sofreram nas mãos da luta armada contra o regime. Pois o regime militar não se faz com uns simples soldados rasos, nem com embaixadores estrangeiros, muito menos funcionários de bancos, empresários e por aí vai.
Mas, para a surpresa de todos, ou não, o Governo apenas pretende apurar os crimes militares, o que será uma tremenda injustiça. E pior, já está causando um profundo mal-estar no Alto-Comando do Exército, com apoio da Marinha e da Aeronáutica.
Colegas, vamos pensar o assunto, é óbvio que os crimes militares, as torturas e as mutilações devem ser apuradas, mas não seria justo que os crimes cometidos pela guerrilha não venham à tona. Que verdade é esta? 
O maior defensor da comissão da (in)verdade é o Sr. José Dirceu, faça-me o favor. Este disse em seu blog: Não dá para aceitar. Querem a reciprocidade, investigar a oposição e a resistência à ditadura? Investigar quem foi preso, torturado, condenado? Quem foi demitido e exilado, perseguido e viu sua família se desintegrar? Quem teve que viver na clandestinidade e no exílio para não ser preso e assassinado? Mas, estes todos já foram julgados. A maioria, apesar de civis, por tribunais militares de exceção e, quando condenados, cumpriram pena. Querem que sejam investigados e julgados duas vezes ou mais?”.


Gozado pensar que muitas pessoas inocentes não pensariam assim, mas o Sr. José Dirceu, um grande entusiasta da corrupção e imoralidade que reina hoje em Brasília, pensa. E também é óbvio que os "democratas" da guerrilha não sonhavam com eleições diretas, anistia ampla, geral e irrestrita, e muito menos com a sobrevivência dos que os afrontavam.
O Governo do PT estará cometendo uma cincada, até comum para quem passou a analisar seus trabalhos, se esta comissão for aprovada nos moldes em que está proposta.
Os militares divulgaram uma nota oficial, e propuseram uma emenda à lei da criação da comissão que extinguirá o revanchismo da mesma. Na emenda em que pedem apuração também de casos de terrorismo e justiçamento (militantes de esquerda que matavam traidores dentro de seu grupo), os militares afirmam que, assim como a tortura e o homicídio, são crimes equiparados a hediondos e que devem receber o mesmo tratamento pela Comissão da Verdade. 
O projeto do governo assegura o anonimato a testemunhas que, voluntariamente, entregarem documentos ou prestarem depoimentos. As Forças Armadas querem a identificação de todas as pessoas. "É atender ao princípio do contraditório e da ampla defesa. Denúncias anônimas poderiam surgir sem fundamento", argumentam. 
Outra mudança desejada é trocar a expressão "convocar" (militares e outras testemunhas) por "convidar" - que ninguém seja obrigado a comparecer à Comissão da Verdade. "É inconstitucional dar poderes de polícia à comissão", afirmam. 
Outra alteração é impedir sessões fechadas, como prevê o texto do governo em casos de resguardar a intimidade e a vida privada das pessoas. "É para garantir transparência e espírito democrático às atividades da comissão, evitando que reuniões secretas tenham por fim direcionar os trabalhos. Não há motivos que justifiquem os trabalhos secretos da comissão", defendem os militares. 
Creio que a retaliação para com as Forças Armadas não seja a melhor saída. Vamos investigar os dois lados, vamos punir os dois lados. A LUTA ARMADA NÃO DESEJAVA UM ESTADO DEMOCRÁTICO, ASSIM COMO OS MILITARES TAMBÉM NÃO. DESEJAVA  UMA DITADURA NOS MOLDES DE CUBA OU URSS. Esta é a vocação brasileira? Ditadura ou ditadura? Não. Então que a justiça seja feita. Dos dois lados.

terça-feira, 8 de março de 2011

Com a Palavra, Hélio Fernandes

Uma lição de História do Brasil
Carlos Lacerda: candidato invencível de uma eleição (1965) que não haverá
De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1963, todos conspiravam, 24 horas por dia. Jango no Poder. Os militares, escondidos. Os governadores Ademar de Barros, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Miguel Arraes, Mauro Borges, Brizola (que deixara o governo no início desse 1963), o ex-presidente Juscelino (que passou o governo a Jânio e lançou sua candidatura para 5 anos depois, em 1965).
Em 6 de janeiro desse 1963, João Goulart ganhou facilmente o plebiscito para a volta do presidencialismo. Interesses colossais, "correu muito dinheiro". Mas surgiram brigas e mais brigas, todos conspiravam, mas todos eram candidatos a presidente. Parece uma contradição, mas era a verdade dos fatos. Nestas notas de 1964, me interessa um aspecto e um governador, pois conversava quase diariamente com ele, candidatíssimo.
E a candidatura Carlos Lacerda? Continua forte e bem disposta, com evidentes reflexos na opinião pública. Mas ou eu muito me engano ou o governador da Guanabara continua sendo o mais forte dos candidatos a uma eleição que não vai haver. Ou só haverá dentro de certas condições. O sr. Carlos Lacerda paga, neste momento, por dois terríveis erros, que vão amargar e amargurar os próximos anos da sua vida:
1º - A viagem à Europa, numa hora em que o País e a revolução esperavam (e até exigiam) tanto da sua liderança.
2º - Ter ficado placidamente no cinema do palácio, assistindo "Moscou contra o Agente 007" (um filme realmente muito excitante), enquanto em Brasília o Congresso desarvorado e sedento de uma orientação que não chegava, quedava-se perplexo e aprovava a prorrogação do mandato presidencial apenas por um voto.
Se o sr. Carlos Lacerda, habitualmente tão lúcido, tivesse compreendido que naquele momento se jogava o destino da sua própria candidatura e a sorte do Poder Civil, por muitos e muitos anos, teria corrido para Brasília e derrubado a prorrogação do mandato presidencial. Recorde-se que, quando chegou da sua malfadada viagem à Europa e se manifestou radicalmente contra a prorrogação, a UDN toda correu para os seus braços, evidenciando que aquela era a orientação certa.
Mas na hora exata em que deveria se mostrar mais firme, o sr. Carlos Lacerda afrouxou, o Congresso sentiu que havia "entre o Céu e a Terra muito mais coisas do que pode alcançar a nossa vã filosofia", e afrouxou junto com o líder. Naquele dia, quase sem sentir, e assistindo cinema até às 4,10 horas da manhã, o sr. Carlos Lacerda assinava a sua própria sentença de morte eleitoral e sepultava melancolicamente uma boa dose das esperanças e das possibilidades de chegar à presidência da República. E o que é mais grave: insensivelmente, infligira ao Poder Civil a mais contundente das derrotas já sofridas desde 1937.
Agora, os acontecimentos não podem mais ser controlados a distância e o sr. Carlos Lacerda perdeu o pulso da situação. Continua sendo o mais popular e o mais amado dos líderes brasileiros, e o único líder civil da revolução. Mas o que adianta isso, para uma revolução que se afirma acima de tudo e sobretudo militarista, principalmente nas suas preferências em relação a 1965? Vire-se para onde se virar, o sr. Carlos Lacerda encontra um candidato militar, e todos com evidente supremacia sobre ele. Supremacia que não se manifestava antes da revolução, mas que agora cresceu espantosamente.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a revolução tirou do sr. Carlos Lacerda todas as bandeiras e se apresta para tirar-lhe agora até a "vontade" de se candidatar.
Outra coisa que vai funcionar e fulminar quase inapelavelmente o sr. Carlos Lacerda: as inimizades que foi acumulando nos seus quase 20 anos de liderança na política e no jornalismo, e no decorrer de algumas das mais formidáveis campanhas que este País já assistiu. Não se pode ser Carlos Lacerda a vida toda sem provocar ódio e frustração.
O sr. Ademar de Barros, neste momento, além do alívio que deve estar experimentando por se sentir seguro no governo de São Paulo, tem uma outra satisfação: está se vingando do sr. Carlos Lacerda, e do muito que já sofreu (merecidamente, diga-se) nas suas mãos. O sr. Magalhães Pinto (que nunca morreu de amores pelo sr. Carlos Lacerda) já se enfileira também no esquema Ademar e com evidente satisfação. Não podendo se candidatar, Ademar e Magalhães já ficam visivelmente satisfeitos que Lacerda também não possa.
Quanto ao desmentido feito pelo ministro da Guerra, Costa e Silva, em relação à sua candidatura, mostra que ele "aprendeu rapidamente o jogo. É candidatíssimo e diz que não é". Inevitável e rigorosamente compreensível. Aliás, isso está na linha da mais autêntica coerência histórica. Em 1890, quando se falou na candidatura Floriano, ministro da Guerra de então, ele foi o primeiro a sair com um desmentido no "Jornal do Commercio", o mais importante da época.
Depois, tivemos a fase dos grandes movimentos militares, das sucessivas revoluções, veio 1930, entramos na longa noite da ditadura, até que finalmente voltamos à luz e à democracia, em 1945. E qual foi o candidato escolhido? Precisamente quem fora ministro da Guerra durante longos e longos anos, o marechal Dutra. Relutou, relutou, disse que não queria. Acabou presidente da República.
Em 1960, tivemos nova candidatura de ministro da Guerra, a do general Lott, que só não acabou presidente da República porque os acontecimentos políticos, econômicos e sociais, e os impressionantes erros acumulados, provocaram um fenômeno chamado Jânio Quadros. Agora a história se repete e o ministro da Guerra é novamente tentado pelas forças civis para disputar a presidência da República. Não tem importância que ele desminta o fato. De desmentido em desmentido, Costa e Silva acaba presidente da República.
PS - O artigo acima foi publicado em outubro de 1964. O senhor Carlos Lacerda, governador da Guanabara, era candidato pela UDN. O senhor Ademar de Barros, governador de São Paulo, era candidato pelo PSP. O sr. Magalhães Pinto, governador de Minas, era candidato certíssimo. Os 3 apoiaram a revolução, que não apoiou nenhum deles. Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros cometeram o erro terrível de não terem cursado a Escola Militar de Realengo e saído general.
PS 2 - Se não tivesse havido a revolução de 1964, é possível que um dos 3 tivesse chegado a presidente. Embora eu estivesse convencido que sem 1964 ou com 1964 jamais teria havido 1965 no calendário eleitoral brasileiro.
PS 3 - (40 anos depois, agora, atendendo a pedidos gerais, reproduzo o artigo. Não pelo fato de ter acertado em tudo, de não ter havido 1965, do Poder Civil ter mergulhado numa escuridão de 25 anos. Pois a primeira eleição direta só foi acontecer em 1989. O Poder Civil não existiu, mas o Poder Militar também não se satisfez. Mantiveram o Poder tanto tempo para quê? Para nada. Nem para eles, nem para os civis, nem para o Brasil).
PS 4 - Para o repórter não adiantou coisa alguma. Dizer em 1964 que não haveria eleição em 1965, valeu alguma coisa? Nada a não ser desterro, cassação, prisões, perseguições, discriminação. E insistir que não haveria espaço para qualquer civil, na época nem era muito difícil de acertar. Bastava olhar e analisar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

“Votem em Negrão com um lenço no nariz, mas votem”.

Estas palavras são então do General da Reserva Golbery do Couto e Silva. A História do Brasil recente é muito obscura, pois muitos só tentam observá-la com  as fontes e os pontos de vista que lhe interessam. Difícil hoje estudar história sem patrulha ideológica. E um dos assuntos mais "omitidos" é no que diz respeito as eleições de 1965 no extinto Estado da Guanabara.
Logo após a Revolução ( ou Golpe, tanto faz a nomenclatura, mas direi movimentos de 64), Castello Branco já havia conseguido do Congresso a prorrogação de seu mandato (http://obscritico.blogspot.com/2010/12/o-dia-22-de-julho-de-1964-um-dos-mais.html) junto aos liberais da UDN ( Bilac Pinto, Paulo Sarasate, Afonso Arinos de Melo Franco, e principalmente a ovelha negra do partido Daniel Krieger que serviu e serviu-se de Castello e Costa e Silva. Contraditório este Krieger não?)
Voltemos aos fatos. Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, os dois grandes líderes civis que restavam em atividade no Brasil( Jango e JK estavam cassados, e olhem que  JUSCELINO VOTOU EM CASTELO BRANCO NA ELEIÇÃO INDIRETA), estavam  fazendo franca oposição ao governo Castelo Branco. Lacerda rompeu com o Presidente e a sua corja logo após a prorrogação e este acreditava que derrotar Lacerda na Guanabara era importante.
Primeiro, o Governador fez uma campanha para que se houvessem eleições em 65. Percorreu o país, enviou várias correspondências ao presidente afirmando numa delas em 6 de fevereiro: "Não estou interessado em prorrogação, até porque terei que me desincompatibilizar para tentar merecer a honra de ser seu sucessor. Não desejo assumir responsabilidades, aliás, indeclináveis em face do meu Estado e dos demais. O melhor, o certo, o corajoso, o democrático é que se realize eleições"

A CAMPANHA

Confirmadas as eleições, restava à UDN escolher o candidato. Primeiro tentou-se Enaldo Cravo Peixoto, Secretário de Obras do Estado, como Lacerda conta em seu depoimento, explicando que não poderia ficar fora do pleito.

"Ocorreu-me uma manobra para evitar isso. Lanço um candidato que seja apenas um técnico, funcionário do Estado, com uma obra realizada, com um nome... Cumpro meu dever. Se ele perde a eleição, não tem maior significado político para mim, nem tem nada a ver com a eleição de Presidente da República. Porque não uma é derrota minha, não é uma derrota nossa. É uma derrota de um funcionário do Estado da guanabara que se fez candidato."
Cravo Peixoto diria depois: "Quando Lacerda quis apoiar minha candidatura à UDN, dos 50 diretórios, só 26 me apoiaram. Eu senti a reação e retirei minha candidatura. Escrevi uma carta, monstrando que o governador me apoiou até o último minuto e que injunções políticas me fizeram desistir, mas em que momento algum me senti um boi de piranha."
Com Cravo Peixoto fora pensou-se no nome de Hélio Beltrão, quis o destino que esta candidatura fosse abortada.
Na reunião de discussão do AI-5, Magalhães Pinto, que havia rompido com Castelo, mas compôs-se com Costa e Silva, absteve-se de votar a cassação de Lacerda, mas Hélio Beltrão, seu ex-secretário  votou por sua cassação.
Raimundo de Brito e Amaral Neto foram descartados, e a preferência de Lacerda era por Raphael de Almeida Magalhães. Bom orador, jovem, teve uma boa atuação como Vice-Governador e era uma pessoa extremamente popular, mas este não se decidia sobre a candidatura e além disso sofreu um veto da igreja  por ser desquitado.
Então, a UDN escolheu Flexa Ribeiro, secretário de educação, mas já sogro do filho de Lacerda.
No PTB, tradicional adversário da UDN na Guanabara, tentou-se a candidatura do Marechal Lott, que foi  o primeiro atingido pela nova lei eleitoral,  já que havia transferido seu título para Teresópolis. Então tentou-se Hélio de Almeida, uma incógnita, mas capaz de unir as esquerdas. Foi punido pela Lei Hélio de Almeida.Vetados Lott e Almeida, restava ao PTB apoiar a candidatura de Negrão de Lima, do PSD e amigo pessoal de Castelo.
"De fato, Castelo era amigo de Negrão desde a juventude, quando, aluno da Escola de Realengo, passara as férias em Belo Horizonte, cidade então com 30000 habitantes e na qual a vida se escoava em meio aos hábitos simples da convivência provinciana. Depois, já tenente, Castelo servia em Belo horizonte, para onde levara o coração e, sem recursos para comprar livros, habituara-se a tomá-los das estantes daquele amigo.Leu assim Os Sermões, de Vieira, A Nova Floresta do padre Manuel Bernardes. Quando casou, coube a Negrão transmitir-lhe os bons votos  dos companheiros."(Luís Viana Filho. O Governo Castelo Branco, p.327.)
Mas a candidatura de Negrão sozinha não era um grande obstáculo a ser superado. Os "liberais" da UDN lançaram o ex-prefeito Alim Pedro pelo PDC( Partido de Juarez Távora).

Na campanha de Flexa Ribeiro, que era "ruim de voto", Lacerda empenhou-se ao máximo. Em 16 de setembro, na inauguração das oficinas da CTC ele deixou claro: " e a minha derrota, se não serve a mim, também não serve ao povo brasileiro. A minha derrota na Guanabara significa fatalmente, não haver eleições no ano que vem. É só isto que os espertos estão esperando para dizer que não pode haver eleições se o candidato à Presidência não consegue ganhar nem no seu próprio Estado."
E foi o que aconteceu, o conluio Governo Federal- Globo- Light- Hanna-Comunistas- PTB- PSD- parte da UDN e empresários cariocas, venceu o candidato Flexa Ribeiro, que terminou com 41% do eleitorado carioca a seu favor. Logo após as eleições, no dia 7 de outubro, Lacerda faz um grande pronunciamento na televisão, no qual devolve a candidatura à Presidência.

"Meu caro amigo e ilustre presidente da UDN Ernani Sátiro.
Entendo necessário devolver ao meu partido a candidatura presidencial que ele me entregou para pleitear, perante ao povo, a transformação do Brasil numa democracia. A derrota que sofremos nestas eleições foi da UDN. Batida em quase todos os Estados. E a Revolução enterrada por aqueles que em nome dela se apossaram do país. Lutamos contra cinco Presidentes da República vivos, o Partido Comunista e outras forças. E ainda assim tivemos 41% da votação carioca. Não podemos fazer mais do que fizemos, porque a Revolução foi condenada pelo povo.
A UDN, reconheço, não poderia apoiar ao mesmo tempo minha candidatura e o Governo Castelo Branco. Pois o presidente não admite a minha candidatura e tudo fez para condenar o país à escamoteação do que se chama eleição indireta. O Presidente foi vítima da obsessão de evitar minha candidatura e o voto direto do povo.(...)
(...)Não pretendo participar dessa escamoteação de uma Revolução que, traída e levada a trair o povo, foi por ele derrotada, precisamente por não ser uma Revolução Requeiro assim uma convenção da UDN para eu agradecer a confiança que os udenistas depositaram em mim.(...)
(...) Não vou falar da lenta, da metódica demolição da minha liderança política intentada por dirigentes do meu partido, que se ligaram ao Presidente Castelo Branco.
Não vou falar desta ação emoliente, dessa ação desagregadora,que ora me obrigava ao silêncio amargurado, aí sim... pela explosão de velhos recalques e de indormidos ressentimentos, ora revidar em defesa, fosse da minha honra, fosse da minha liderança, que não pedi, porque conquistei...
De Hitler a ususrpador, nem apodo me foi poupado, a menor crítica objetiva à política econômica do Governo, seguia-se uma diatribe autorizada pelo Presidente contra o Governador do Estado.
Não vou descer a pormenores por mais importantes que sejam: um dia quando tudo isso passar, quando as paixões e os recalques se curarem pela força do tempo, terei a oportunidade de publicar a minha correspondência com o Sr. Presidente da República.
Levantaria ao acaso dois ou três exemplos - o trabalho oficial por parte do Governo  para promover a união das oposições em torno do Sr. Negrão de Lima, tirando do caminho os candidatos que pudessem enfraquecer esta união, intervindo através do Sr. Procurador da República para afastar quaisquer candidatos e promovendo a entrega do PTB ao Sr. Luthero Vargas, para retirar o PTB da área radical, a fim de promover a aliança com o Sr. Negrão de Lima. Trabalho magistral, pelo qual desejo felicitar os orientadores do Sr. Presidente da República(...)
(...) A face do Governo, a face visível da luta revolucionária era o Sr. Roberto Campos declarando - não haverá aumento de vencimentos neste ano, nem ano que vem - numa cidade de funcionários públicos!!!
No dia seguinte da eleição - haverá aumento de vencimentos a partir de janeiro do ano que vem.(...)
(...)Não há nada pior do que a tensão de quem tem vivido debaixo da pressão de ver o que ia acontecer, e de ter a desgraça de, sem ser vidente, prever, porque usa um pouco de inteligência para exercer a função fundamental do homem público, que é não se deixar surpreender pelos acontecimentos!(...)
Ah, se eu quisesse contar frases, palavras inteiras, textos completos, de falsos informes, informações truncadas, expressões escapadas aqui e ali, frases como estas: " Quer as eleições? Pois então vai tê-las e será derrotado!"
Frases como esta: " É preciso votar no Negrão para destruir o Lacerda!" Foi do PTB? Não foi do Governo da Revolução. Sabem quem disse uma delas? O General Cordeiro de Farias!
Pois bem, agora aceita-se tudo na oposição- se isto pode chamar de oposição- qualquer acordo! A raposa também aceita tudo para lhe abrirem a porta do galinheiro!(...)
Uma semana antes da eleição, eu disse a este bravo que se o era hoje o é ainda mais na minha admiração, na minha estima, que se chama Flexa Ribeiro: "Temo, ou melhor, tenho a certeza de que não podendo votar contra o Presidente Castelo Branco, o povo vai votar contra você, porque você representa, queira ou não, queira a Revolução ou não, queira o Presidente ou não -a Revolução que se tornou madrasta do povo!"
" O Povo vai votar contra você, desforrando-se de coisas contra as quais nós, todos os dias, nos pronunciamos! Por quê?  Porque não tínhamos a sem-vergonhice, nem o impatriotismo de fingir que somos contra a Revolução,  mas ao contrário, a defendemos, criticando um governo que não a defendeu!"
(...)E aqui agora, aquela pergunta, sempre aquelas perguntas de algibeira: " Mas você foi a favor da eleição! Foi! Se o Sr. Presidente me der a honra de me ouvir neste momento- não creio- mas se alguns de seus olheiros me ouvirem, tenham a bondade de pedir que leia minhas cartas sobre a eleição. A minha carta não, as minhas cartas!(...)
Não houve Revolução. Não há Revolução. houve eleição e o povo votou contra uma Revolução que não houve. Precisamente porque ela não houve! Porque abusaram do nome de Revolução para instalar um governo que é talvez o mais não revolucionário até hoje instalado no Brasil.
Afastou-se da Revolução, do Governo e do povo, os líderes populares que poderiam traduzir a Revolução para o povo, e que podiam levar o povo a compreender a Revolução.
Afastou-se por mil pretextos sutis, desde o da mágoa pessoal exagerada a proporções inacreditáveis, até o dos ardis políticos, da auto-flagelação. Afastou-se do Governo da Revolução todos aqueles ou quase todos que sustentaram a esperança do povo, e os que deram partida à Revolução. E quem tivesse dúvidas, tem agora a prova.
Qual o objetivo em que se empenhou o Governo da revolução? Destruir em Minas o Governador Magalhães Pinto, e na Guanabara, eu! Alguém tem dúvidas a este respeito?_ "Já que não há Revolução, que haja eleição", foi o que eu disse. E o meio que o povo teve de condenar a Revolução, por ela não ter havido, foi o voto(...)
Meus amigos, é tempo de concluir! Não quero concluir com qualquer coisa que represente desalento. Não quero concluir por uma palavra negativa, e devo, ao concluir sobretudo, agradecer a estes milhares de brasileiros- jovens e velhos, homens e mulheres, de todas as classes, que pela noite adentro vararam horas de angústia e ansiedade, essa gente toda que lutava pela vitória de Flexa e Danilo(Nunes), que eu sabia que estavam derrotados. Sabia e disse, a quem podia dizer. Não disse a vocês, porque não tinha o direito de deprimi-los. Porque não tinha o direito de comandar uma debandada. Sabia. E ouso dizer - foi disso que adoeci!
E é disso que estou doente de alguma coisa muito pior do que eu tive. Estou doente de confiança. Perdi a confiança. Perdi a confiança! No último dia em que visitei o  Sr. Presidente da República a seu chamado, disse-lhe no final - e ele há de estar lembrado disso, eram cerca de 8 da manhã- disse: " Sr. Presidente, não sei se estou arrependido de ter levado o seu nome ao ministro Costa e Silva, em nome dos governadores reunidos no Palácio Guanabara, para que o Congresso elegesse Presidente da República."
O que me resta a dizer neste momento, meus amigos, é que agora eu sei - estou arrependido! boa noite."


O DESFECHO
Vencidas as eleições por Negrão, pouco tempo depois o AI-2 foi decretado, extinguindo os partidos políticos. Depois em 66, o AI-3, acabando com as eleições diretas estaduais e fechando o Congresso, e em dezembro deste mesmo ano, o AI-4, chamando de volta o Congresso, em fins de mandato para votar a nova constituição.
Então, o Brasil de 1966 tinha duas alternativas. E em nenhuma delas os líderes civis estavam inseridos.
A primeira era a implantação definitiva do esquema castelista, uma espécie de mexicanização do Brasil, e a segunda, mais drástica, seria a imposição de uma ditadura de fato, com Costa e Silva à frente. Este, "salvou" Castelo depois de uma sublevação na Vila Militar, impondo a condição de ser seu sucessor.
Mas a história por enquanto termina aqui, na incapacidade das esquerdas de enxergar um palmo à frente do nariz, apoiando o candidato do Regime, da Globo, Negrão de Lima, o famoso pombo-correio do Estado Novo e movida por ódios pessoais, achou mais importante derrotar Lacerda do que o Regime. Um erro pelo qual alguns pagam até hoje.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Salvando a Cultura Brasileira- Emir Sader está fora!

Graças aos escrúpulos da nossa ministra da cultura, Ana de Hollanda, Emir Sader não será mais nomeado para a Casa de Rui Barbosa.
Dezenas de apelos foram feitos para que tal crime contra a cultura brasileira não fosse permitido. Emir é, no mínimo, inadequado para a função.
Além de apoiar os "fusilamentos" em Cuba e glorificar Hitler por ter dizimado judeus em solo europeu, Emir chegou a chamar Ana de Hollanda, que seria sua chefe,  DE AUTISTA. Pasmem. Este sujeito não tem nenhuma bagagem para assumir a Casa de rui Barbosa. Nem sei por que cargas d'água foi cogitado.


Quando falava sobre os cortes orçamentários do Governo, o sábio Emir  soltou a pérola: "Vamos ver com que ritmo a gente consegue organizar, né? Até porque vai ter corte de recursos...", disse Sader, para retomar, mais adiante: "Tem corte, o orçamento é menor, tem corte e tem dívidas. Desde março não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da Ana porque ela fica quieta, é meio autista".

O Que Emir desenvolveria  na Casa?
Não sei, talvez um estudo sobre o "lulismo", ou algo parecido. Sendo que, embora Lula obtivera grandes avanços sociais durante seus oito anos de mandato, a corrupção cresceu demais e o PT tornou-se uma máquina de eleições, cargos e honrarias.
Sinceramente, espero que esta loucura pare por aí, e que a horda "revolucionária" que se auto intitula os únicos críticos deste mundo sossegue e contente-se com o que tem.
Mas, é difícil, pois o poder no Brasil, depois dos oito anos de Lula, tornou-se um poder petista, como se o PT algo gigantesco, até maior do que o Brasil. E se é assim, creio necessário advertir que o poder pessoal corrompe. E mais do que já está corrompido. Se é que isto é possível.


PS: Emir criticou a "mídia conservadora" sobre a sua não nomeação. E falou de dificuldades adicionais. Será que ele esqueceu que a maior dificuldade está em sua incapacidade?
PS²: Será que, com ele à fente da Casa de Rui Barbosa, esta emitiria uma nota oficial à favor do "Governo Popular de Khaddafi?" Prefiro não pagar para ver.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Frases...

 “Um comunista democrático é um bicho que não existe. Todo comunista é, por definição, totalitário. Tolerá-lo é necessário. Mas obrigá-lo a nos tolerar é indispensável. É preciso que ele não se apresente nem como o único e nem como o melhor campeão da liberdade, pois, o regime comunista é incompatível com a liberdade"

Vestígios de um pesadelo no Brasil

A esta altura, parece um pesadelo ouvir qualquer manifestação à favor de ditaduras no Brasil. Depois de oito anos de Estado Novo e mais 21 de ditadura militar no Brasil, escuta-se vozes em defesa de Muamar Khaddafi, um ditador sanguinário que afrontou seu povo durante décadas, até que este se encheu e partiu para a Revolução.
Quero dizer. Será que o povo brasileiro esqueceu-se das torturas, das prisões, mortes, atentados, e decidiu contemporizar com mais uma ditadura? já vi escritos como Governo Popular de Khaddafi.
Internacionalmente, o governo venezuelano do nosso querido e amado Hugo Chávez, diz que os eventos na Líbia estão sendo manipulados pela imprensa e ainda que a situação no país norte-africano está normalíssima.
Então, os embaixadores que renunciaram estão loucos. Ou serão os militares que passaram para o lado dos rebeldes. Talvez os rebeldes cansados da opressão, e que divulgaram que não podem se tratar nos hospitais devido ao perigo de serem capturados por ativistas pró-governo, extremamente violentos.
Vamos falar sério minha gente. Todos os acontecimentos, como as sanções da ONU, os protestos, a ocupação de parte do país por forças de oposição. Tudo isso cai por terra porque um simples chefe de estado, falto de serenidade e imparcialidade, e até mesmo de honradez, pois és também um ditador, diz que está tudo bem? Quero dizer, não consegui entender como está tudo bem por lá. Pobre brasileiros que tiveram que partir para a Grécia, fugindo dos conflitos, até mesmo sem passaportes.
Grupos que até ontem, criticavam o exército e a polícia do Rio de Janeiro pela truculência exercida em algumas ocasiões nos conflitos da Zona Norte da capital fluminense, deveriam calar-se ao observar isto: 


"[...]O ex-ministro da Justiça Mustafa Abdel-Jalil, que abandonou o cargo em protesto à repressão aos manifestantes, disse que não haverá negociações com o regime de Khadafi e pediu que o líder líbio, no poder desde 1969, renuncie imediatamente[...]
[...]Há relatos de tanques em movimento nos subúrbios da cidade, assim como de invasão de residências por forças de segurança do governo, em busca de opositores[...]"


Estas notícias são da BBC, que atribuem truculência a Khaddafi, contra os manifestantes. 


Gente, ditadura é ditadura, e todas são truculentas. Vargas, Médici, Costa e Silva, Chávez, Fidel, Stalin, todos detinham um governo violento. E se muitos criticavam algumas destas ditaduras, não podemos ser condescendentes com uma ditadura truculenta.
Espero que o ditador saia, com ou sem derramamento de sangue, e que a normalidade se estabeleça na Líbia.
Desejo esta mesma sorte a determinados países.


PS: O próprio José Dirceu, em seu blog, diz que a mídia manipula as notícias na Líbia. Grande Dirceu, sua credibilidade é NULA, assim como sua HONESTIDADE.  
PS²: Os EUA deveriam se conter em esperar o curso natural das coisas. Normalmente suas intervenções não resultam em coisas boas. Deixem que o povo faça a revolução na Líbia. No Brasil deu em 21 anos de avitaminose cívica.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Tristeza no coração político do Rio de Janeiro

É com extremo pesar, que venho a vocês leitores, transmitir esta triste notícia. O ex-vice governador da Guanabara, ex-ministro da previdência social, e também advogado, veio a falecer ontem, dia 23/01/2011 aos 80 anos de vida. Raphael sofreu um mal súbito em sua residência, no Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro.
Raphael iniciou sua carreira política como Vice de Carlos Lacerda no governo da Guanabara. Sua atuação um pouco menos "dura" do que a de Lacerda foi característica nos tempos em que ele exercia o governo. Ficou famoso pela frase: "acordo imoral não é para ser cumprido".
Não se candidatou as eleições de 1965 devido a um veto a sua candidatura pelo Cardeal D. Jaime Câmara transmitido por Sandra Cavalcanti, por ser descasado. Em um reunião com correligionários, decidiu-se que ele desistiria da pré-candidatura pois a campanha feita pelos adversários em cima do assunto seria sórdida.
Mas nas eleições legislativas, conseguiu para Deputado Federal, sendo um dos mais votados da Guanabara.Foi um dos signatários do manisfesto do PAREDE ( Partido da Reforma Democrática) encabeçado por deputados lacerdistas, embora sem sucesso. Apesar de ser filiado a ARENA, foi cassado pelo AI-5 e preso. Raphael teve uma atuação destacada no impedimento da cassação de Marcio Moreira Alves, o Marcito.
Com o fim da ditadura, foi eleito deputado constituinte e depois nomeado ministro da previdência pelo então presidente José Sarney.
Raphael atualmente era conselheiro do grupo EBX, de Eike Batista. Raphael deixou mulher, filha e duas netas.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Direto da Tribuna da Imprensa

O processo estava parado há 11 anos, e as sucessivas denúncias da Tribuna da Imprensa (único jornal e blog a cobrir o assunto) serviram de subsídio para comunicar ao Conselho Nacional de Justiça e à presidência do Tribunal Regional Federal a absurda lentidão com que esse processo vinha tramitando. 
O autor da ação contra  o bispo Edir Macedo, a TV Record e a IURD – Igreja Universal do Reino de Deus é o Ministério Público Federal de São Paulo, representado inicialmente pela procuradora Maria Luisa Rodrigues de Lima Carvalho Duarte.
O Ministério Público pretendia simplesmente que fosse declarada a nulidade da transferência do canal 7, antes pertencente a Silvio Santos, para o bispo Edir Macedo, que pagou na transação o equivalente a 30 milhões de dólares.
Acontece que o bispo Edir Macedo, que não fez voto de pobreza, jamais teve recursos para negócio de tal monta, realizado há 20 anos, em 1990. Segundo o Ministério Público, o piedoso líder evangélico se apropriou dos milionários dízimos entregues diariamente à IURD por milhões de evangélicos, que buscam nessa igreja consolo, bênçãos e prosperidade.
A pergunta que o Ministério Público fazia é a seguinte: poderia o bispo Macedo se apropriar desses milionários recursos, para, em seu nome e no de sua esposa, Ester Eunice Bezerra, transformar-se no proprietário da segunda maior rede de televisão do país, mediante a utilização dessa montanha de dinheiro pertencente à IURD?
Ao julgar o processo hoje, em segunda instância, o Tribunal Regional Federal de São Paulo, concordou com a sentença da então juíza Marli Barbosa da Silva (hoje, desembargadora), que em 26 de janeiro de 1999, declarou improcente a ação do Ministério Público.
Para a magistrada, “é intuitivo que os réus, ao se valerem de empréstimos obtidos da IURD para a compra das ações do Grupo Record, cujos valores foram obtidos através de campanhas junto aos fiéis da IURD, não assumiriam em princípio que efetivaram as negociações para si mesmos, e não para a IURD. Primeiro, porque isto poderia levar à descrença e à desmobilização dos fiéis que, sentindo-se enganados, abandonariam a instituição religiosa. Segundo, porque tal assunção poderia caracterizar o delito de apropriação indébita, já que não necessitaram da aprovação de quem quer que seja  para obter os aludidos empréstimos da IURD. E terceiro, porque dizendo que compraram as ações do Grupo Record para a IURD poderia esta continuar se beneficiando da imunidade que a Constituição Federal lhe confere, subtraindo-se todos aos efeitos da tributação”.
Caramba, a ilustre magistrada confirmou que os recursos eram da Igreja Universal. E disse que foram usados dissimuladamente (com má fé, portanto) já que Macedo e sua mulher “não assumiriam em princípio que efetivaram as negociações para si mesmos, e não para a IURD”, destacando a juíza que “isto poderia levar à descrença e à desmobilização dos fiéis que, sentindo-se enganados, abandonariam a instituição religiosa”.
Disse também a juíza que o fato de Macedo e a mulher terem subtraído os recursos da Tesouraria da Igreja Universal “poderia caracterizar o delito de apropriação indébita, já que não necessitaram da aprovação de quem quer que seja  para obter os aludidos empréstimos da IURD”.
E disse mais a então juíza federal: “Se os empréstimos foram simulados – e há indícios de que o foram – cabe uma única indagação a respeito: a quem aproveita a simulação dos contratos de mútuo realizados entre Edir Macedo Bezerra, Marcelo Bezerra Crivella, suas esposas e a IURD? À Igreja Universal do Reino de Deus ou aos primeiros?
O Ministério Público Federal entende que tudo não passou de uma simulação para que a Igreja Universal do Reino de Deus obtivesse a propriedade e o controle acionário do Grupo Record, o que lhe é vedado pela Constituição Federal. Tal tese, porém, como já mencionamos alhures, não ficou comprovada.
Há  possibilidade de que os réus somente agora estejam dizendo a verdade e tenham adquirido para si as ações do Grupo Record, porquanto nenhuma prova produzida nestes autos teve o condão de infirmar suas respostas, ao contrário da prova oral colhe-se a informação de que os empréstimos e a compra das ações foram declarados pelos réus a um só tempo e os mútuos devidamente contabilizados com correção monetária pela IURD.
Por todo o exposto, concluiu a juíza Marli Barbosa, não há como prosperar o pedido de cassação judicial das concessões com base na simulação dos contratos de mútuo, por total ausência de provas quanto à ilegitimidade dos atos administrativos e, subjacentemente, dos atos negociais praticados na esfera privada”.
E hoje a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal de SP concordou com a sentença da juíza e negou provimento à apelação do Ministério Público federal. Traduzindo: de fato, Edir Macedo usou o dinheiro da IURD para se transformar  no segundo mais poderoso homem de TV do Brasil, ,mas ninguém tem nada com isso.
Ou melhor, a única pessoa que poderia discordar dessa apropriação considerada indébita pelo Ministério Público Federal, seria o próprio bispo Macedo, por ser o líder da IURD. Parece brincadeira, mas é a verdade da sentença e do acórdão.
Com a decisão de hoje, o Tribunal Regional Federal simplesmente admitiu que uma pessoa sem recursos, possa adquirir uma rede de emissoras de televisão, com dinheiro subtraído dos cofres de uma igreja, instituição que não paga impostos. Para legalizar a “transação”, basta que anos depois o ardiloso surripiador devolva o dinheiro, sem pagar juros, apenas com a correção monetária. Um negócio dos deuses, diríamos, uma transação verdadeiramente celestial.
O acórdão do Tribunal Regional Federal está transformando Edir Macedo oficialmente e legalmente num dos mais novos e mais poderosos bilionários do Brasil, inclusive com respeitável força junto ao Congresso Nacional – a conhecida bancada dos evangélicos, que vota com o governo. Sem dúvida, a fé remove montanha, faz milagres e até faculta a prosperidade – e ponha prosperidade nisso.
Que Deus tenha piedade de nós.

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