sábado, 19 de março de 2011

Inverdades comissionadas

Proposta por Lula durante o seu Governo, a comissão da verdade provavelmente será aprovada neste ano, primeiro do Governo Dilma, já que o Congresso está submisso ao Executivo e este a deseja mais do que nunca.
Não seria por acaso uma grande mentira se esta comissão, ao que me parece, nomeada pelo Governo, apenas apurasse os crimes militares. Mas, dentro de um Brasil democrático como hoje, isto seria uma ignomínia ao povo brasileiro, e a todos aqueles que sofreram nas mãos da luta armada contra o regime. Pois o regime militar não se faz com uns simples soldados rasos, nem com embaixadores estrangeiros, muito menos funcionários de bancos, empresários e por aí vai.
Mas, para a surpresa de todos, ou não, o Governo apenas pretende apurar os crimes militares, o que será uma tremenda injustiça. E pior, já está causando um profundo mal-estar no Alto-Comando do Exército, com apoio da Marinha e da Aeronáutica.
Colegas, vamos pensar o assunto, é óbvio que os crimes militares, as torturas e as mutilações devem ser apuradas, mas não seria justo que os crimes cometidos pela guerrilha não venham à tona. Que verdade é esta? 
O maior defensor da comissão da (in)verdade é o Sr. José Dirceu, faça-me o favor. Este disse em seu blog: Não dá para aceitar. Querem a reciprocidade, investigar a oposição e a resistência à ditadura? Investigar quem foi preso, torturado, condenado? Quem foi demitido e exilado, perseguido e viu sua família se desintegrar? Quem teve que viver na clandestinidade e no exílio para não ser preso e assassinado? Mas, estes todos já foram julgados. A maioria, apesar de civis, por tribunais militares de exceção e, quando condenados, cumpriram pena. Querem que sejam investigados e julgados duas vezes ou mais?”.


Gozado pensar que muitas pessoas inocentes não pensariam assim, mas o Sr. José Dirceu, um grande entusiasta da corrupção e imoralidade que reina hoje em Brasília, pensa. E também é óbvio que os "democratas" da guerrilha não sonhavam com eleições diretas, anistia ampla, geral e irrestrita, e muito menos com a sobrevivência dos que os afrontavam.
O Governo do PT estará cometendo uma cincada, até comum para quem passou a analisar seus trabalhos, se esta comissão for aprovada nos moldes em que está proposta.
Os militares divulgaram uma nota oficial, e propuseram uma emenda à lei da criação da comissão que extinguirá o revanchismo da mesma. Na emenda em que pedem apuração também de casos de terrorismo e justiçamento (militantes de esquerda que matavam traidores dentro de seu grupo), os militares afirmam que, assim como a tortura e o homicídio, são crimes equiparados a hediondos e que devem receber o mesmo tratamento pela Comissão da Verdade. 
O projeto do governo assegura o anonimato a testemunhas que, voluntariamente, entregarem documentos ou prestarem depoimentos. As Forças Armadas querem a identificação de todas as pessoas. "É atender ao princípio do contraditório e da ampla defesa. Denúncias anônimas poderiam surgir sem fundamento", argumentam. 
Outra mudança desejada é trocar a expressão "convocar" (militares e outras testemunhas) por "convidar" - que ninguém seja obrigado a comparecer à Comissão da Verdade. "É inconstitucional dar poderes de polícia à comissão", afirmam. 
Outra alteração é impedir sessões fechadas, como prevê o texto do governo em casos de resguardar a intimidade e a vida privada das pessoas. "É para garantir transparência e espírito democrático às atividades da comissão, evitando que reuniões secretas tenham por fim direcionar os trabalhos. Não há motivos que justifiquem os trabalhos secretos da comissão", defendem os militares. 
Creio que a retaliação para com as Forças Armadas não seja a melhor saída. Vamos investigar os dois lados, vamos punir os dois lados. A LUTA ARMADA NÃO DESEJAVA UM ESTADO DEMOCRÁTICO, ASSIM COMO OS MILITARES TAMBÉM NÃO. DESEJAVA  UMA DITADURA NOS MOLDES DE CUBA OU URSS. Esta é a vocação brasileira? Ditadura ou ditadura? Não. Então que a justiça seja feita. Dos dois lados.

terça-feira, 8 de março de 2011

Com a Palavra, Hélio Fernandes

Uma lição de História do Brasil
Carlos Lacerda: candidato invencível de uma eleição (1965) que não haverá
De 1º de janeiro a 31 de dezembro de 1963, todos conspiravam, 24 horas por dia. Jango no Poder. Os militares, escondidos. Os governadores Ademar de Barros, Carlos Lacerda, Magalhães Pinto, Miguel Arraes, Mauro Borges, Brizola (que deixara o governo no início desse 1963), o ex-presidente Juscelino (que passou o governo a Jânio e lançou sua candidatura para 5 anos depois, em 1965).
Em 6 de janeiro desse 1963, João Goulart ganhou facilmente o plebiscito para a volta do presidencialismo. Interesses colossais, "correu muito dinheiro". Mas surgiram brigas e mais brigas, todos conspiravam, mas todos eram candidatos a presidente. Parece uma contradição, mas era a verdade dos fatos. Nestas notas de 1964, me interessa um aspecto e um governador, pois conversava quase diariamente com ele, candidatíssimo.
E a candidatura Carlos Lacerda? Continua forte e bem disposta, com evidentes reflexos na opinião pública. Mas ou eu muito me engano ou o governador da Guanabara continua sendo o mais forte dos candidatos a uma eleição que não vai haver. Ou só haverá dentro de certas condições. O sr. Carlos Lacerda paga, neste momento, por dois terríveis erros, que vão amargar e amargurar os próximos anos da sua vida:
1º - A viagem à Europa, numa hora em que o País e a revolução esperavam (e até exigiam) tanto da sua liderança.
2º - Ter ficado placidamente no cinema do palácio, assistindo "Moscou contra o Agente 007" (um filme realmente muito excitante), enquanto em Brasília o Congresso desarvorado e sedento de uma orientação que não chegava, quedava-se perplexo e aprovava a prorrogação do mandato presidencial apenas por um voto.
Se o sr. Carlos Lacerda, habitualmente tão lúcido, tivesse compreendido que naquele momento se jogava o destino da sua própria candidatura e a sorte do Poder Civil, por muitos e muitos anos, teria corrido para Brasília e derrubado a prorrogação do mandato presidencial. Recorde-se que, quando chegou da sua malfadada viagem à Europa e se manifestou radicalmente contra a prorrogação, a UDN toda correu para os seus braços, evidenciando que aquela era a orientação certa.
Mas na hora exata em que deveria se mostrar mais firme, o sr. Carlos Lacerda afrouxou, o Congresso sentiu que havia "entre o Céu e a Terra muito mais coisas do que pode alcançar a nossa vã filosofia", e afrouxou junto com o líder. Naquele dia, quase sem sentir, e assistindo cinema até às 4,10 horas da manhã, o sr. Carlos Lacerda assinava a sua própria sentença de morte eleitoral e sepultava melancolicamente uma boa dose das esperanças e das possibilidades de chegar à presidência da República. E o que é mais grave: insensivelmente, infligira ao Poder Civil a mais contundente das derrotas já sofridas desde 1937.
Agora, os acontecimentos não podem mais ser controlados a distância e o sr. Carlos Lacerda perdeu o pulso da situação. Continua sendo o mais popular e o mais amado dos líderes brasileiros, e o único líder civil da revolução. Mas o que adianta isso, para uma revolução que se afirma acima de tudo e sobretudo militarista, principalmente nas suas preferências em relação a 1965? Vire-se para onde se virar, o sr. Carlos Lacerda encontra um candidato militar, e todos com evidente supremacia sobre ele. Supremacia que não se manifestava antes da revolução, mas que agora cresceu espantosamente.
Pode-se dizer, sem medo de errar, que a revolução tirou do sr. Carlos Lacerda todas as bandeiras e se apresta para tirar-lhe agora até a "vontade" de se candidatar.
Outra coisa que vai funcionar e fulminar quase inapelavelmente o sr. Carlos Lacerda: as inimizades que foi acumulando nos seus quase 20 anos de liderança na política e no jornalismo, e no decorrer de algumas das mais formidáveis campanhas que este País já assistiu. Não se pode ser Carlos Lacerda a vida toda sem provocar ódio e frustração.
O sr. Ademar de Barros, neste momento, além do alívio que deve estar experimentando por se sentir seguro no governo de São Paulo, tem uma outra satisfação: está se vingando do sr. Carlos Lacerda, e do muito que já sofreu (merecidamente, diga-se) nas suas mãos. O sr. Magalhães Pinto (que nunca morreu de amores pelo sr. Carlos Lacerda) já se enfileira também no esquema Ademar e com evidente satisfação. Não podendo se candidatar, Ademar e Magalhães já ficam visivelmente satisfeitos que Lacerda também não possa.
Quanto ao desmentido feito pelo ministro da Guerra, Costa e Silva, em relação à sua candidatura, mostra que ele "aprendeu rapidamente o jogo. É candidatíssimo e diz que não é". Inevitável e rigorosamente compreensível. Aliás, isso está na linha da mais autêntica coerência histórica. Em 1890, quando se falou na candidatura Floriano, ministro da Guerra de então, ele foi o primeiro a sair com um desmentido no "Jornal do Commercio", o mais importante da época.
Depois, tivemos a fase dos grandes movimentos militares, das sucessivas revoluções, veio 1930, entramos na longa noite da ditadura, até que finalmente voltamos à luz e à democracia, em 1945. E qual foi o candidato escolhido? Precisamente quem fora ministro da Guerra durante longos e longos anos, o marechal Dutra. Relutou, relutou, disse que não queria. Acabou presidente da República.
Em 1960, tivemos nova candidatura de ministro da Guerra, a do general Lott, que só não acabou presidente da República porque os acontecimentos políticos, econômicos e sociais, e os impressionantes erros acumulados, provocaram um fenômeno chamado Jânio Quadros. Agora a história se repete e o ministro da Guerra é novamente tentado pelas forças civis para disputar a presidência da República. Não tem importância que ele desminta o fato. De desmentido em desmentido, Costa e Silva acaba presidente da República.
PS - O artigo acima foi publicado em outubro de 1964. O senhor Carlos Lacerda, governador da Guanabara, era candidato pela UDN. O senhor Ademar de Barros, governador de São Paulo, era candidato pelo PSP. O sr. Magalhães Pinto, governador de Minas, era candidato certíssimo. Os 3 apoiaram a revolução, que não apoiou nenhum deles. Carlos Lacerda, Magalhães Pinto e Ademar de Barros cometeram o erro terrível de não terem cursado a Escola Militar de Realengo e saído general.
PS 2 - Se não tivesse havido a revolução de 1964, é possível que um dos 3 tivesse chegado a presidente. Embora eu estivesse convencido que sem 1964 ou com 1964 jamais teria havido 1965 no calendário eleitoral brasileiro.
PS 3 - (40 anos depois, agora, atendendo a pedidos gerais, reproduzo o artigo. Não pelo fato de ter acertado em tudo, de não ter havido 1965, do Poder Civil ter mergulhado numa escuridão de 25 anos. Pois a primeira eleição direta só foi acontecer em 1989. O Poder Civil não existiu, mas o Poder Militar também não se satisfez. Mantiveram o Poder tanto tempo para quê? Para nada. Nem para eles, nem para os civis, nem para o Brasil).
PS 4 - Para o repórter não adiantou coisa alguma. Dizer em 1964 que não haveria eleição em 1965, valeu alguma coisa? Nada a não ser desterro, cassação, prisões, perseguições, discriminação. E insistir que não haveria espaço para qualquer civil, na época nem era muito difícil de acertar. Bastava olhar e analisar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

“Votem em Negrão com um lenço no nariz, mas votem”.

Estas palavras são então do General da Reserva Golbery do Couto e Silva. A História do Brasil recente é muito obscura, pois muitos só tentam observá-la com  as fontes e os pontos de vista que lhe interessam. Difícil hoje estudar história sem patrulha ideológica. E um dos assuntos mais "omitidos" é no que diz respeito as eleições de 1965 no extinto Estado da Guanabara.
Logo após a Revolução ( ou Golpe, tanto faz a nomenclatura, mas direi movimentos de 64), Castello Branco já havia conseguido do Congresso a prorrogação de seu mandato (http://obscritico.blogspot.com/2010/12/o-dia-22-de-julho-de-1964-um-dos-mais.html) junto aos liberais da UDN ( Bilac Pinto, Paulo Sarasate, Afonso Arinos de Melo Franco, e principalmente a ovelha negra do partido Daniel Krieger que serviu e serviu-se de Castello e Costa e Silva. Contraditório este Krieger não?)
Voltemos aos fatos. Carlos Lacerda e Magalhães Pinto, os dois grandes líderes civis que restavam em atividade no Brasil( Jango e JK estavam cassados, e olhem que  JUSCELINO VOTOU EM CASTELO BRANCO NA ELEIÇÃO INDIRETA), estavam  fazendo franca oposição ao governo Castelo Branco. Lacerda rompeu com o Presidente e a sua corja logo após a prorrogação e este acreditava que derrotar Lacerda na Guanabara era importante.
Primeiro, o Governador fez uma campanha para que se houvessem eleições em 65. Percorreu o país, enviou várias correspondências ao presidente afirmando numa delas em 6 de fevereiro: "Não estou interessado em prorrogação, até porque terei que me desincompatibilizar para tentar merecer a honra de ser seu sucessor. Não desejo assumir responsabilidades, aliás, indeclináveis em face do meu Estado e dos demais. O melhor, o certo, o corajoso, o democrático é que se realize eleições"

A CAMPANHA

Confirmadas as eleições, restava à UDN escolher o candidato. Primeiro tentou-se Enaldo Cravo Peixoto, Secretário de Obras do Estado, como Lacerda conta em seu depoimento, explicando que não poderia ficar fora do pleito.

"Ocorreu-me uma manobra para evitar isso. Lanço um candidato que seja apenas um técnico, funcionário do Estado, com uma obra realizada, com um nome... Cumpro meu dever. Se ele perde a eleição, não tem maior significado político para mim, nem tem nada a ver com a eleição de Presidente da República. Porque não uma é derrota minha, não é uma derrota nossa. É uma derrota de um funcionário do Estado da guanabara que se fez candidato."
Cravo Peixoto diria depois: "Quando Lacerda quis apoiar minha candidatura à UDN, dos 50 diretórios, só 26 me apoiaram. Eu senti a reação e retirei minha candidatura. Escrevi uma carta, monstrando que o governador me apoiou até o último minuto e que injunções políticas me fizeram desistir, mas em que momento algum me senti um boi de piranha."
Com Cravo Peixoto fora pensou-se no nome de Hélio Beltrão, quis o destino que esta candidatura fosse abortada.
Na reunião de discussão do AI-5, Magalhães Pinto, que havia rompido com Castelo, mas compôs-se com Costa e Silva, absteve-se de votar a cassação de Lacerda, mas Hélio Beltrão, seu ex-secretário  votou por sua cassação.
Raimundo de Brito e Amaral Neto foram descartados, e a preferência de Lacerda era por Raphael de Almeida Magalhães. Bom orador, jovem, teve uma boa atuação como Vice-Governador e era uma pessoa extremamente popular, mas este não se decidia sobre a candidatura e além disso sofreu um veto da igreja  por ser desquitado.
Então, a UDN escolheu Flexa Ribeiro, secretário de educação, mas já sogro do filho de Lacerda.
No PTB, tradicional adversário da UDN na Guanabara, tentou-se a candidatura do Marechal Lott, que foi  o primeiro atingido pela nova lei eleitoral,  já que havia transferido seu título para Teresópolis. Então tentou-se Hélio de Almeida, uma incógnita, mas capaz de unir as esquerdas. Foi punido pela Lei Hélio de Almeida.Vetados Lott e Almeida, restava ao PTB apoiar a candidatura de Negrão de Lima, do PSD e amigo pessoal de Castelo.
"De fato, Castelo era amigo de Negrão desde a juventude, quando, aluno da Escola de Realengo, passara as férias em Belo Horizonte, cidade então com 30000 habitantes e na qual a vida se escoava em meio aos hábitos simples da convivência provinciana. Depois, já tenente, Castelo servia em Belo horizonte, para onde levara o coração e, sem recursos para comprar livros, habituara-se a tomá-los das estantes daquele amigo.Leu assim Os Sermões, de Vieira, A Nova Floresta do padre Manuel Bernardes. Quando casou, coube a Negrão transmitir-lhe os bons votos  dos companheiros."(Luís Viana Filho. O Governo Castelo Branco, p.327.)
Mas a candidatura de Negrão sozinha não era um grande obstáculo a ser superado. Os "liberais" da UDN lançaram o ex-prefeito Alim Pedro pelo PDC( Partido de Juarez Távora).

Na campanha de Flexa Ribeiro, que era "ruim de voto", Lacerda empenhou-se ao máximo. Em 16 de setembro, na inauguração das oficinas da CTC ele deixou claro: " e a minha derrota, se não serve a mim, também não serve ao povo brasileiro. A minha derrota na Guanabara significa fatalmente, não haver eleições no ano que vem. É só isto que os espertos estão esperando para dizer que não pode haver eleições se o candidato à Presidência não consegue ganhar nem no seu próprio Estado."
E foi o que aconteceu, o conluio Governo Federal- Globo- Light- Hanna-Comunistas- PTB- PSD- parte da UDN e empresários cariocas, venceu o candidato Flexa Ribeiro, que terminou com 41% do eleitorado carioca a seu favor. Logo após as eleições, no dia 7 de outubro, Lacerda faz um grande pronunciamento na televisão, no qual devolve a candidatura à Presidência.

"Meu caro amigo e ilustre presidente da UDN Ernani Sátiro.
Entendo necessário devolver ao meu partido a candidatura presidencial que ele me entregou para pleitear, perante ao povo, a transformação do Brasil numa democracia. A derrota que sofremos nestas eleições foi da UDN. Batida em quase todos os Estados. E a Revolução enterrada por aqueles que em nome dela se apossaram do país. Lutamos contra cinco Presidentes da República vivos, o Partido Comunista e outras forças. E ainda assim tivemos 41% da votação carioca. Não podemos fazer mais do que fizemos, porque a Revolução foi condenada pelo povo.
A UDN, reconheço, não poderia apoiar ao mesmo tempo minha candidatura e o Governo Castelo Branco. Pois o presidente não admite a minha candidatura e tudo fez para condenar o país à escamoteação do que se chama eleição indireta. O Presidente foi vítima da obsessão de evitar minha candidatura e o voto direto do povo.(...)
(...)Não pretendo participar dessa escamoteação de uma Revolução que, traída e levada a trair o povo, foi por ele derrotada, precisamente por não ser uma Revolução Requeiro assim uma convenção da UDN para eu agradecer a confiança que os udenistas depositaram em mim.(...)
(...) Não vou falar da lenta, da metódica demolição da minha liderança política intentada por dirigentes do meu partido, que se ligaram ao Presidente Castelo Branco.
Não vou falar desta ação emoliente, dessa ação desagregadora,que ora me obrigava ao silêncio amargurado, aí sim... pela explosão de velhos recalques e de indormidos ressentimentos, ora revidar em defesa, fosse da minha honra, fosse da minha liderança, que não pedi, porque conquistei...
De Hitler a ususrpador, nem apodo me foi poupado, a menor crítica objetiva à política econômica do Governo, seguia-se uma diatribe autorizada pelo Presidente contra o Governador do Estado.
Não vou descer a pormenores por mais importantes que sejam: um dia quando tudo isso passar, quando as paixões e os recalques se curarem pela força do tempo, terei a oportunidade de publicar a minha correspondência com o Sr. Presidente da República.
Levantaria ao acaso dois ou três exemplos - o trabalho oficial por parte do Governo  para promover a união das oposições em torno do Sr. Negrão de Lima, tirando do caminho os candidatos que pudessem enfraquecer esta união, intervindo através do Sr. Procurador da República para afastar quaisquer candidatos e promovendo a entrega do PTB ao Sr. Luthero Vargas, para retirar o PTB da área radical, a fim de promover a aliança com o Sr. Negrão de Lima. Trabalho magistral, pelo qual desejo felicitar os orientadores do Sr. Presidente da República(...)
(...) A face do Governo, a face visível da luta revolucionária era o Sr. Roberto Campos declarando - não haverá aumento de vencimentos neste ano, nem ano que vem - numa cidade de funcionários públicos!!!
No dia seguinte da eleição - haverá aumento de vencimentos a partir de janeiro do ano que vem.(...)
(...)Não há nada pior do que a tensão de quem tem vivido debaixo da pressão de ver o que ia acontecer, e de ter a desgraça de, sem ser vidente, prever, porque usa um pouco de inteligência para exercer a função fundamental do homem público, que é não se deixar surpreender pelos acontecimentos!(...)
Ah, se eu quisesse contar frases, palavras inteiras, textos completos, de falsos informes, informações truncadas, expressões escapadas aqui e ali, frases como estas: " Quer as eleições? Pois então vai tê-las e será derrotado!"
Frases como esta: " É preciso votar no Negrão para destruir o Lacerda!" Foi do PTB? Não foi do Governo da Revolução. Sabem quem disse uma delas? O General Cordeiro de Farias!
Pois bem, agora aceita-se tudo na oposição- se isto pode chamar de oposição- qualquer acordo! A raposa também aceita tudo para lhe abrirem a porta do galinheiro!(...)
Uma semana antes da eleição, eu disse a este bravo que se o era hoje o é ainda mais na minha admiração, na minha estima, que se chama Flexa Ribeiro: "Temo, ou melhor, tenho a certeza de que não podendo votar contra o Presidente Castelo Branco, o povo vai votar contra você, porque você representa, queira ou não, queira a Revolução ou não, queira o Presidente ou não -a Revolução que se tornou madrasta do povo!"
" O Povo vai votar contra você, desforrando-se de coisas contra as quais nós, todos os dias, nos pronunciamos! Por quê?  Porque não tínhamos a sem-vergonhice, nem o impatriotismo de fingir que somos contra a Revolução,  mas ao contrário, a defendemos, criticando um governo que não a defendeu!"
(...)E aqui agora, aquela pergunta, sempre aquelas perguntas de algibeira: " Mas você foi a favor da eleição! Foi! Se o Sr. Presidente me der a honra de me ouvir neste momento- não creio- mas se alguns de seus olheiros me ouvirem, tenham a bondade de pedir que leia minhas cartas sobre a eleição. A minha carta não, as minhas cartas!(...)
Não houve Revolução. Não há Revolução. houve eleição e o povo votou contra uma Revolução que não houve. Precisamente porque ela não houve! Porque abusaram do nome de Revolução para instalar um governo que é talvez o mais não revolucionário até hoje instalado no Brasil.
Afastou-se da Revolução, do Governo e do povo, os líderes populares que poderiam traduzir a Revolução para o povo, e que podiam levar o povo a compreender a Revolução.
Afastou-se por mil pretextos sutis, desde o da mágoa pessoal exagerada a proporções inacreditáveis, até o dos ardis políticos, da auto-flagelação. Afastou-se do Governo da Revolução todos aqueles ou quase todos que sustentaram a esperança do povo, e os que deram partida à Revolução. E quem tivesse dúvidas, tem agora a prova.
Qual o objetivo em que se empenhou o Governo da revolução? Destruir em Minas o Governador Magalhães Pinto, e na Guanabara, eu! Alguém tem dúvidas a este respeito?_ "Já que não há Revolução, que haja eleição", foi o que eu disse. E o meio que o povo teve de condenar a Revolução, por ela não ter havido, foi o voto(...)
Meus amigos, é tempo de concluir! Não quero concluir com qualquer coisa que represente desalento. Não quero concluir por uma palavra negativa, e devo, ao concluir sobretudo, agradecer a estes milhares de brasileiros- jovens e velhos, homens e mulheres, de todas as classes, que pela noite adentro vararam horas de angústia e ansiedade, essa gente toda que lutava pela vitória de Flexa e Danilo(Nunes), que eu sabia que estavam derrotados. Sabia e disse, a quem podia dizer. Não disse a vocês, porque não tinha o direito de deprimi-los. Porque não tinha o direito de comandar uma debandada. Sabia. E ouso dizer - foi disso que adoeci!
E é disso que estou doente de alguma coisa muito pior do que eu tive. Estou doente de confiança. Perdi a confiança. Perdi a confiança! No último dia em que visitei o  Sr. Presidente da República a seu chamado, disse-lhe no final - e ele há de estar lembrado disso, eram cerca de 8 da manhã- disse: " Sr. Presidente, não sei se estou arrependido de ter levado o seu nome ao ministro Costa e Silva, em nome dos governadores reunidos no Palácio Guanabara, para que o Congresso elegesse Presidente da República."
O que me resta a dizer neste momento, meus amigos, é que agora eu sei - estou arrependido! boa noite."


O DESFECHO
Vencidas as eleições por Negrão, pouco tempo depois o AI-2 foi decretado, extinguindo os partidos políticos. Depois em 66, o AI-3, acabando com as eleições diretas estaduais e fechando o Congresso, e em dezembro deste mesmo ano, o AI-4, chamando de volta o Congresso, em fins de mandato para votar a nova constituição.
Então, o Brasil de 1966 tinha duas alternativas. E em nenhuma delas os líderes civis estavam inseridos.
A primeira era a implantação definitiva do esquema castelista, uma espécie de mexicanização do Brasil, e a segunda, mais drástica, seria a imposição de uma ditadura de fato, com Costa e Silva à frente. Este, "salvou" Castelo depois de uma sublevação na Vila Militar, impondo a condição de ser seu sucessor.
Mas a história por enquanto termina aqui, na incapacidade das esquerdas de enxergar um palmo à frente do nariz, apoiando o candidato do Regime, da Globo, Negrão de Lima, o famoso pombo-correio do Estado Novo e movida por ódios pessoais, achou mais importante derrotar Lacerda do que o Regime. Um erro pelo qual alguns pagam até hoje.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Salvando a Cultura Brasileira- Emir Sader está fora!

Graças aos escrúpulos da nossa ministra da cultura, Ana de Hollanda, Emir Sader não será mais nomeado para a Casa de Rui Barbosa.
Dezenas de apelos foram feitos para que tal crime contra a cultura brasileira não fosse permitido. Emir é, no mínimo, inadequado para a função.
Além de apoiar os "fusilamentos" em Cuba e glorificar Hitler por ter dizimado judeus em solo europeu, Emir chegou a chamar Ana de Hollanda, que seria sua chefe,  DE AUTISTA. Pasmem. Este sujeito não tem nenhuma bagagem para assumir a Casa de rui Barbosa. Nem sei por que cargas d'água foi cogitado.


Quando falava sobre os cortes orçamentários do Governo, o sábio Emir  soltou a pérola: "Vamos ver com que ritmo a gente consegue organizar, né? Até porque vai ter corte de recursos...", disse Sader, para retomar, mais adiante: "Tem corte, o orçamento é menor, tem corte e tem dívidas. Desde março não se repassou nada aos Pontos de Cultura. Teve uma manifestação em Brasília. Está estourando na mão da Ana porque ela fica quieta, é meio autista".

O Que Emir desenvolveria  na Casa?
Não sei, talvez um estudo sobre o "lulismo", ou algo parecido. Sendo que, embora Lula obtivera grandes avanços sociais durante seus oito anos de mandato, a corrupção cresceu demais e o PT tornou-se uma máquina de eleições, cargos e honrarias.
Sinceramente, espero que esta loucura pare por aí, e que a horda "revolucionária" que se auto intitula os únicos críticos deste mundo sossegue e contente-se com o que tem.
Mas, é difícil, pois o poder no Brasil, depois dos oito anos de Lula, tornou-se um poder petista, como se o PT algo gigantesco, até maior do que o Brasil. E se é assim, creio necessário advertir que o poder pessoal corrompe. E mais do que já está corrompido. Se é que isto é possível.


PS: Emir criticou a "mídia conservadora" sobre a sua não nomeação. E falou de dificuldades adicionais. Será que ele esqueceu que a maior dificuldade está em sua incapacidade?
PS²: Será que, com ele à fente da Casa de Rui Barbosa, esta emitiria uma nota oficial à favor do "Governo Popular de Khaddafi?" Prefiro não pagar para ver.